Macroeconomia

Ritmo de queda na taxa de juros estabelecido

Ritmo de queda na taxa de juros estabelecido

As divulgações mais recentes de dados de atividade econômica e inflação corroboram a postura do Banco Central explicitada pela Ata do Copom, divulgada no começo da semana.

A ata da 256ª reunião do COPOM teve leitura em linha com o comunicado disponibilizado logo após a reunião. O conteúdo do texto não trouxe alterações relevantes, e reforçou a perspectiva dos próximos passos em uma tentativa de ancorar as expectativas do mercado em relação ao ritmo de redução da taxa de juros.

Em relação a conjuntura econômica, a ata reforçou que o cenário externo permanece com incertezas no radar. No cenário doméstico, a ata reconhece uma desaceleração gradual na atividade econômica, e uma dinâmica mais benéfica da inflação, particularmente em relação a bens industriais e alimentos. No que tange o mercado de trabalho, autoridade monetária reforça que ele segue resiliente, mas registrou alguma desaceleração na margem.

O Banco Central afirmou que as expectativas de inflação registraram reancoragem parcial em relação a reunião anterior, reforçando o ganho de credibilidade após a manutenção da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional. Por outro lado, o comitê mostra preocupação com a reancoragem apenas parcial das expectativas, refletindo que tal fato talvez seja fruto de incertezas dos agentes em relação ao cenário fiscal.

Comitê reforçou que reformas estruturais e previsibilidade das contas públicas são essenciais para o bom desenvolvimento da atividade econômica, afirmando que medidas contrárias a tal fato tendem a elevar a taxa de juros neutra da economia, com consequências negativas para a política monetária.

A ata afirma que foi discutido uma possível percepção dos agentes de que o Banco Central poderia eventualmente se tornar mais leniente com a inflação. No entanto, reforçou que, independentemente da composição da diretoria ao longo do tempo, “deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição.”

O Comitê entendeu que era possível iniciar um ciclo de redução na taxa de juros, justificando tal movimento em função da manutenção de meta de inflação pelo CMN, melhora nas expectativas de inflação e desaceleração na inflação, tanto no índice cheio quanto da inflação de serviços. Apesar da decisão dividida em relação a magnitude da redução, o comitê reforçou que os membros enxergam, de maneira unânime, que o ritmo de redução de 50 bps na taxa de juros nas próximas reuniões é apropriado. Além disso, o comitê afirma ser pouco provável uma eventual aceleração desse ritmo, dizendo que tal movimento exigiria uma melhora relevante na dinâmica inflacionária. Tal fato sugere que o Banco Central só irá aumentar o ritmo de normalização da política monetária caso haja reancoragem plena das expectativas de inflação. O comitê reforçou seu compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, afirmando que manterá uma política monetária contracionista até que as expectativas de inflação convirjam para a meta estabelecida.

Durante a semana, tivemos a divulgação também de dados do comércio, do setor de serviços e do IPCA, que confirmaram uma atividade econômica ainda aquecida, mas com sinais de desaceleração, além de uma inflação que registrou melhora em setores mais pressionados.

As vendas no varejo registraram estabilidade (0,0%) em junho no conceito restrito, e avançaram 1,2% na leitura ampliada, ambas acima da expectativa do mercado. Além disso, os dados de maio foram revisados para cima, com quedas menores do que anteriormente reportado. A divulgação acima do esperado aliado a revisão altista nos dados de maio demonstra resiliência no comércio. O volume do setor de serviços registrou alta de 0,2% em junho na comparação mensal, abaixo da nossa expectativa (0,4%) e da mediana do mercado (0,5%). Em relação a junho de 2022, a PMS avançou 4,1%, em linha com a nossa expectativa e abaixo da mediana do mercado (4,2%). Adicionalmente, os dados de maio tiveram forte revisão altista, saindo de alta de 0,9% para avanço de 1,4%. O setor de serviços registrou desempenho abaixo da expectativa do mercado, sinalizando alguma desaceleração. Por outro lado, a forte revisão altista nos dados de maio apontam para uma atividade ainda aquecida.

Em relação a inflação, o IPCA de julho registrou avanço de 0,12%, acelerando para 3,99% no acumulado nos últimos doze meses. Conforme esperado, destaque para as deflações em Alimentação e Bebidas (-0,46%) e Habitação (-1,01%). Por outro lado, destaque de alta para Transportes (1,50%), influenciado principalmente pelo aumento de 4,75% em gasolina. Destaque positivo para a desaceleração em Serviços (0,25% ante 0,62% anterior) e na média dos cinco núcleos (0,18% vs. 0,20% anterior). Além disso, note-se nova queda no índice de difusão, saindo de 49,60% para 46,15%.

Em resumo, a atividade econômica registrou desempenho ainda robusto no segundo trimestre do ano, mas com sinais mais claros de desaceleração, enquanto a inflação já demonstra uma tendência mais benéfica, com queda nos itens que vinham gerando mais preocupação. Em função da combinação de tais fatores, projetamos Selic em 11,75% no final do ano, com corte de 50 bps nas próximas três reuniões.

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