Macroeconomia

Deterioração do cenário externo

Deterioração do cenário externo

Em semana de agenda econômica vazia no Brasil, a piora no cenário externo, especialmente relacionada a China e a curva de juros nos Estados Unidos, liderou os movimentos nos mercados de capitais.

A semana foi marcada pela deterioração no cenário externo com implicações relevantes para os países emergentes, incluindo o Brasil.

No começo da semana, a divulgação de dados econômicos na China trouxe uma nova rodada de desempenho da economia abaixo do esperado. A produção industrial avançou 3,7% em julho na comparação anual, abaixo do esperado (4,5%) e desacelerando em relação ao mês anterior (4,4%). As vendas no varejo registraram comportamento similar, com alta de 2,5% em relação a julho de 2022, também abaixo do esperado (4,8%) e do mês anterior (3,1%). Os investimentos em ativos fixos, por sua vez, apresentaram desaceleração mais amena, mas ainda assim abaixo da expectativa (3,4% vs. 3,8% esperado). A taxa de desemprego registrou leve alta de 5,2% para 5,3%. No entanto, no que tange o mercado de trabalho, o que mais chamou a atenção foi a decisão da China de não divulgar a taxa de desemprego entre jovens, número que vem rodando próximo dos 20% e causa preocupações com o desempenho da economia chinesa. As divulgações abaixo do esperado fizeram com que algumas instituições revisassem o PIB da China para 2023, com a expectativa ficando abaixo da meta estabelecida pelo governo de 5,0%.

Além do fraco desempenho econômico, a Zhongzhi Entreprise Co., uma das maiores gestoras de recursos do país, não realizou pagamentos a investidores, acendendo um alerta no mercado de capitais da China. Em função da combinação dos dados econômicos fracos e problemas com a gestora Zhongzhi, o Banco Central da China reduziu a taxa de juros de 1 ano, passando de 2,65% para 2,50%. Taxa de juros de menor prazo também tiveram redução de 10 pontos base. Adicionalmente, ao longo da semana, a Zhongrong International Trust Co., outra grande empresa do setor bancário da China, também não realizou pagamentos a investidores e anunciou uma reestruturação da dívida, aumentando receios sobre a verdadeira situação do mercado de capitas em território chinês. O mercado agora espera novas reduções da taxa de juros pelo Banco Central, além de alimentar esperanças de um pacote de estímulos do governo.

Nos Estados Unidos, o forte desempenho da atividade econômica, corroborado pelo avanço acima do esperado das vendas no varejo em julho (0,7% vs. 0,4% esperado), impactou negativamente a curva de juros no país, com alta relevante nos títulos de 10 e 30 anos. Adicionalmente, a ata da última reunião do comitê de política monetária do Fed teve leitura mais hawkish, com membros registrando preocupação com sinais altistas da inflação e apontando para maior possiblidade de nova alta de 25 pontos-base na taxa de juros. Além disso, o Fed de Atlanta passou a prever um aumento de 5,8% do PIB norte-americano no terceiro trimestre (taxa trimestral anualizada), bem acima da expectativa do mercado, com a narrativa de que não haverá mais recessão no país ganhando força.

Ainda que com menor impacto do que os citados acima, a surpresa na prévia nas eleições da Argentina provocou reação nos mercados locais, com forte depreciação cambial. O Banco Central da Argentina elevou a taxa de juros de 97% para 118%. A turbulência no principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul tem implicações na percepção de risco para os países emergentes.

A combinação dos fatores acima citados registrou forte impacto nos mercados dos países emergentes, incluindo o Brasil. A perspectiva de juros elevados por mais tempo nos Estados Unidos em função do forte desempenho da atividade econômica, provoca aversão ao risco ao redor do mundo, especialmente em países emergentes. O avanço nos títulos de 10 anos dos EUA, considerados os ativos livres de risco a nível mundial, parece ser o principal responsável pelo aumento na curva de juros no Brasil e demais países emergentes na semana. Os problemas nos mercados de capitais na China, aliados ao fraco desempenho econômico também geram preocupações. No caso do Brasil, uma desaceleração mais forte no principal parceiro comercial do país pode provocar deterioração no setor ligado a exportação e, potencialmente, impactar negativamente a taxa de câmbio. Prospectivamente, a atenção ficará voltada para a expectativa de juros nos Estados Unidos e para como a China vai lidar com os problemas internos no país.

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