Os dados econômicos do mês de agosto dos principais indicadores de atividades registraram, majoritariamente, desaceleração.
No começo do mês, tivemos a divulgação da produção industrial, que registrou alta de 0,4% em agosto na comparação mensal, mas veio abaixo das expectativas, e o único setor a avançar no período. Em relação a agosto de 2022, a atividade industrial registrou alta de 0,5%, também abaixo das projeções. Analisando a divulgação, destaca-se o avanço de 1,0% na indústria da transformação, interrompendo uma sequência de duas quedas consecutivas. A indústria extrativa, por sua vez, recuou 1,6%.
A atividade industrial se recuperou parcialmente da queda observado em julho, desta vez puxada pelo melhor desempenho da indústria de transformação. No entanto, na análise do desempenho no ano, note-se que setores mais sensíveis a taxa de juros seguem pressionados, enquanto bens de consumo registram performance mais positiva, apoiado por um mercado de trabalho robusto.
Nesta semana, a divulgação do volume de serviços surpreendeu negativamente as estimativas do mercado. O setor registrou forte queda de 0,9% em agosto na comparação mensal, bem abaixo das projeções, que apontavam avanço de cerca de 0,5% no período. Em relação a agosto de 2022, a PMS avançou 0,9%. Analisando a divulgação, note-se queda em 4 das 5 categorias pesquisadas. Destaque negativo para serviços prestados às famílias (-3,8%), recuando após quatro altas mensais consecutivas. Transportes registraram queda de 2,1%, com recuo nas quatro subcategorias (aquaviário, aéreo e armazenagem, serviços de correio). Outros serviços (-1,4%) e serviços de comunicação e informação (-0,8%) também recuaram no período. Pelo outro lado, serviços profissionais registraram alta de 1,7%, a única categoria a avançar no mês.
O forte recuo no mês, com desempenho bem abaixo da expectativa do mercado, sinaliza uma desaceleração mais aguda e evidente da atividade econômica no país. A queda em agosto foi puxada pelos serviços prestados às famílias, segmento que vinha suportando a boa performance do setor no ano.
As vendas no varejo registraram queda de 0,2% em agosto no conceito restrito, acima da nossa expectativa (-0,5%) e da mediana do mercado (-0,7%). Na leitura ampliada, a PMC recuou 1,3%, abaixo da nossa estimativa (-0,6%) e da mediana do mercado (-0,7%). Na comparação anual, as vendas no varejo avançaram 2,3% no conceito restrito e 3,6% na leitura ampliada. Na análise mensal, metade das oito categorias da pesquisa no conceito restrito recuaram em agosto. Destaque negativo para as vendas de livros, jornais e revistas (-3,2%), a terceira queda mensal consecutiva, além do recuo observado em móveis e eletrodomésticos (-2,2%) e outros artigos de uso pessoal (-4,8%). Pelo lado positivo, destaca-se os avanços nas vendas de combustíveis de lubrificantes (0,9%) e supermercados (0,9%). As vendas de artigos farmacêuticos (0,1%) e equipamentos e material para escritório (0,2%) subiram em agosto. Na leitura ampliada, destaque positivo para vendas de veículos (3,3%). Materiais de construção, por sua vez, registraram queda de 0,1% após duas altas consecutivas.
As vendas no varejo registraram desempenho acima da expectativa do mercado no conceito restrito, apesar de um desempenho misto na análise entre as categorias da pesquisa. A divulgação demonstra resiliência em alguns setores, como as vendas em supermercados, aparentemente favorecidas pela dinâmica positiva nos preços de alimentos aliado a um mercado de trabalho robusto, que favorece a renda agregada. Por outro lado, segmentos mais afetados pelo alto patamar da taxa de juros permanecem com desempenho fraco, como materiais de construção e móveis e eletrodomésticos.
Por último, o IBC-Br, indicador divulgado pelo Banco Central que simula o desempenho mensal do PIB, recuou 0,8% em agosto na comparação, abaixo da nossa expectativa (-0,6%) e da mediana do mercado (-0,5%). Em relação a agosto de 2022, o índice avançou 1,3%, acelerando em relação a alta de 0,8% no mês anterior.
A atividade econômica doméstica deu sinais mais evidentes de desaceleração nas últimas divulgações, com apenas o setor industrial avançando em agosto, mas ainda assim abaixo da expectativa do mercado. O alto patamar da taxa de juros e consequentemente o aperto no crédito seguem impactando negativamente a economia, evidenciado pelo desempenho de setores mais sensíveis ao ciclo de juros. Além disso, a desaceleração mais forte do que o esperado em serviços, setor com maior parcela de participação no PIB, pode estar relacionada a dissipação dos efeitos dos estímulos fiscais implementados e do bom desempenho do setor agropecuário. Prospectivamente, esperamos que o alto patamar da taxa de juros aliado ao arrefecimento no mercado de trabalho continuem pressionando a atividade econômica a frente com uma desaceleração lenta e gradual ao longo do resto do ano.