O mundo dos investimentos é bastante variado e apresenta uma série de oportunidades, muitas vezes desconhecidas, para quem deseja diversificar sua carteira e ter bons resultados.
Uma das novas opções, ainda pouco explorada pelos investidores mais recentes, é o investimento em música.
Essa é uma alocação alternativa que tem, aos poucos, atraído milhares de pessoas ao redor de todo o mundo.
O mercado de royalties musicais tem um grande potencial, e aproveitá-lo pode ser um bom negócio para alcançar rendimentos consideráveis. Acompanhe o texto para compreender esse modelo de diversificação que permite a você ganhar com suas músicas favoritas!
Qual é a realidade do mercado musical?
Antes de qualquer coisa, é importante compreender a situação do mercado musical, mais especificamente do investimento em royalties musicais.
Em 2020, investidores nacionais passaram a ter bons resultados financeiros ao aplicar parte de seu capital em músicas, ganhando uma parcela ligada aos direitos autorais das músicas em que investiram.
Esse valor pode estar ligado tanto à execução em shows em locais públicos como, até mesmo, à reprodução das canções em plataformas digitais, como YouTube, Spotify e Deezer.
Em um cenário de juros baixos, essas aplicações podem ser uma boa oportunidade para quem procura novas opções de investimento. Além de proporcionar ganhos atrativos, o investimento em música também é uma forma de apoiar os trabalhos artísticos que você admira.
NO BRASIL
No Brasil, esse tipo de negócio teve início em 2020, com a Hurts Capital. Essa fintech, fundada em 2017, por profissionais vindos do mercado financeiro, tem como propósito estruturar e distribuir ativos alternativos. Nesse sentido, a empresa trabalha com diversos tipos de serviços, como precatórios, recebíveis, imóveis e, claro, royalties de músicas.
Durante o período de julho de 2020 até 31 de janeiro de 2021, a empresa já realizou cinco operações. Vale a pena notar que essas ações ocorreram vinculadas aos mais variados estilos musicais, tais como:
● MPB — trabalhos de Luiz Avellar;
● rock — nomes como Paulo Ricardo;
● sertanejo — canções de Bruno César;
● funk — criações do artista Philipe Pancadinha.
Por meio desses investimentos, a empresa girou um capital que tem somado mais de 4,5 milhões de reais.
Para os investidores, existem mais de 5.600 composições e gravações de artistas brasileiros disponíveis. A rentabilidade prevista gira em torno de 12,78% (em um cenário pessimista) e 19,19% (em um cenário otimista).
Esse é um mercado relativamente novo no país, mas que apresenta uma boa perspectiva de retorno. Nesse sentido, apostar nesse setor pode ser interessante para quem está refletindo sobre a melhor escolha do próximo investimento.
O que significa investir em royalties musicais?
O investimento em royalties musicais é categorizado como um alternativo. Nesse sentido, vale a pena compreender um pouco melhor o que isso significa.
INVESTIMENTOS ALTERNATIVOS
Investimentos alternativos são todos os tipos de investimento que estão fora do tipo tradicional do mercado financeiro. Ou seja, não são parte de Bolsas de Valores, letras de crédito etc.
Dessa forma, são alocações que geralmente não são ofertadas pelas instituições financeiras mais comuns, como bancos e corretoras de valores, pois não estão vinculadas a esses mercados.
Os ativos alternativos podem assumir diferentes formatos e riscos, havendo um leque considerável de possibilidades, atendendo aos mais diferentes perfis de investidores.
Por muito tempo, essa classe de ativos foi voltada exclusivamente para investidores mais experientes, que fossem credenciados e institucionalizados. Contudo, essa realidade tem mudado.
Novas plataformas de negociação de produtos financeiros, principalmente a partir da crise de 2008, vêm abrindo espaço para esse tipo de negociação para investidores do varejo.
INVESTIMENTO EM ROYALTIES MUSICAIS
O investimento em royalties musicais permite ao investidor ganhar com a audiência de determinadas canções. Sempre que forem executadas, elas geram uma parcela de retorno.
Por ser um investimento alternativo, esse tipo de ativo apresenta certas particularidades, que podem variar de acordo com os agentes envolvidos, o contrato firmado, entre outras questões.
De maneira geral, quem opta por esse tipo de alocação investe nos recebíveis de royalties de uma carteira de músicas específicas, fornecida pela empresa que realiza as operações.Nesse sentido, o investidor passa a ter direito a uma porcentagem dos royalties recebidos. Isso ocorre sempre que uma música presente na carteira tocar, seja em plataformas de streaming, seja em execuções públicas.
Como funciona o investimento em música?
Como dito, o investimento em música consiste em escolher determinada carteira de canções, focando no retorno por meio dos royalties gerados com a execução dessas músicas, sendo, assim, uma operação de recebíveis.
RECEBÍVEIS
Os recebíveis consistem em pagamentos de royalties sobre os direitos autorais. Dessa forma, eles recaem tanto sobre a obra (composição, criação), quanto sobre o fonograma (gravação e mixagem). No caso das operações realizadas pela Hust, os clientes serão cessionários dos recebíveis por 78 meses, contando a partir de outubro de 2020.
Os royalties são recolhidos e distribuídos todos os meses pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) ou pela Ubem (União Brasileira de Editoras de Música).
Essa operação é pautada no número de execuções da música, sem haver qualquer interferência externa da Hust ou de qualquer outra empresa.
De acordo com Arthur Farache, CEO da Hust, a taxa interna de retorno pode variar. Isso depende, exclusivamente, do número de reproduções das obras. Quanto maior for esse número, maior será o impacto nos valores a serem pagos.
CONDIÇÕES
É importante notar que existem certos condicionantes que estão ligados à negociação de royalties musicais. Nesse sentido, essas condições devem ser definidas na oferta dos ativos, levando em consideração:
● número de composições vinculadas à carteira (uma única canção, uma coletânea, músicas de apenas um artista ou vários, entre outras);
● período em que os royalties estarão sob posse do comprador (um número específico de anos ou a vida toda);
● direitos que estão dispostos na oferta (reprodução em streaming, rádios, filmes, novelas, entre outros).
Vale ressaltar que, como acontece em todo o mercado, quanto maior for o potencial de ganhos vinculados aos direitos, maior será o preço negociado.
O que pode influenciar no preço do ativo?
É perceber que determinadas questões influenciam o preço da oferta e na variação do mesmo. Esses pontos podem alterar de forma mais drástica ou sutil a negociação. Alguns dos fatores são os seguintes.
INFORMAÇÕES SOBRE O INVESTIMENTO
É importante prestar atenção a questões como a receita gerada nos últimos anos por esse investimento; considerar qual a música de maior destaque, no caso de coletâneas; como é feita a divisão dos proventos em cada canal de reprodução etc.
REPARTIÇÃO DO DIREITO
Antigamente, o mercado de royalties apresentava preços muito altos, inibindo investimentos de menor teor. Atualmente, existem maiores partições, o que permite ao pequeno investidor fazer parte desse mercado.
INDEPENDÊNCIA DO MERCADO
Um ponto que torna esses ativos interessantes é que eles apresentam certa independência com relação ao restante do mercado acionário. Isso ocorre porque, mesmo em tempos de crise, as pessoas continuam consumindo música. Dependendo da situação, a crise pode, até mesmo, aquecer o mercado fonográfico.
Qual o retorno?
O retorno do investimento em música deve variar de acordo com a carteira escolhida, o sucesso das canções durante o lançamento e, também, a sua popularidade depois do primeiro momento em que é lançada.
Um exemplo para ser notado é a música “Parado no Bailão”, um dos sucessos do funk nacional. A música ganhou notoriedade com a interpretação de MC Gury e MC L da Vinte.
A produção faz parte de um catálogo da gravadora CP9/Akira que foi negociado pela Hurst. Além dessa faixa específica, a fintech também adquiriu direito sobre obras que serão lançadas no futuro, sendo a entrega mínima de 22 novas músicas por mês.
Nesse caso, a Hurst estruturou a operação no formato de um investimento coletivo, por meio de um crowdfunding. Quem tiver interesse pode investir no projeto a partir de 10 mil reais, recebendo em troca os royalties das músicas.
A empresa projeta um cenário-base da operação de funk com um retorno de 15,75% ao ano. Em um cenário pessimista, o retorno projetado é de 11,13% ao ano. O investimento tem prazo de três anos, e após esse período os direitos serão revendidos. Retornos como esse são maiores do que aqueles esperados nas rendas fixas tradicionais. Fundos de renda fixa registraram ganho médio de 2,37% ao ano no Brasil, e a poupança, 2,12% de rendimento ao ano.
Antes de trabalhar com o funk, a Hurst adquiriu os direitos de obras do rock nacional, como as músicas de Paulo Ricardo. Dentro da lista, estão sucessos como Rádio Pirata, Olhar 43 e Vida real (canção que abre o Big Brother Brasil). Devido ao sucesso e à perenidade das músicas do cantor de rock, a operação teve um grande retorno, captando mais de R$ 1,5 milhão em investimentos.
A fintech também trabalhou com outros setores da música brasileira. Com os direitos sobre as obras do pianista João Luiz de Avellar, compositor de MPB e bossa nova, a empresa captou mais de 2,5 milhões de reais. Já com as obras de Philipe Picadinha, autor que compõe para artistas que trafegam entre o sertanejo e pagode, a Hust conseguiu mais de 1,8 milhões de reais.
Nesse sentido, fazer investimento em música e conseguir parte desses rendimentos pode ser uma boa opção de diversificação, principalmente em um momento em que a taxa básica de juros apresenta um nível baixo.
Como investir?
Atualmente, comprar e vender royalties ficou mais fácil. Isso aconteceu graças a uma série de plataformas que passaram a ofertar títulos para investimento em música e, até mesmo, fundos de investimentos pautados nesse setor de negociação.
Existem alguns sites estrangeiros que trabalham com esse tipo de serviço, como a Royalty Exchange. Essa plataforma pode ser compreendida como um mercado de royalties online dos mais diversos setores, tais como:
● música;
● cinema;
● tv;
● livro;
● farmacêuticos;
● propriedade intelectual;
● gás;
● energia solar;
● entre outros.
A empresa foi fundada em 2011, apresentando tanto leilões como IPOs em catálogos de investimento em música.
Além dessa, outras empresas seguem a mesma direção, como a Lyric Financial, SongVest e Anote Music.
Também existem fundos de investimentos que buscam alocar recursos em ativos musicais. Nesse sentido, a empresa AGI Partners, que tem todo seu capital social na Bolsa de Londres, desenvolveu um fundo para investir em artistas emergentes.
Ainda em Londres, o fundo Round Hill Music Royalty tem grande destaque. Atualmente, é o maior fundo de investimento no mercado, com captações que giraram em torno de mais de 300 milhões de dólares, em 2020.
No caso do Brasil, a empresa que fornece a possibilidade de investimento em royalties de música é a Hurst Capital. Por meio do site da empresa, é possível que os investidores de varejo analisem e comprem as cotas em que se interessarem.
Quais cuidados tomar?
Embora investir em música seja uma maneira inovadora de diversificar a carteira, podendo ter bons ganhos, é importante levar em consideração algumas questões e tomar certos cuidados.
O primeiro ponto é compreender que nem tudo aquilo que é produzido na indústria musical faz sucesso duradouro, em especial, dentro de estilos musicais mais populares.
Nesses casos, muitas produções ganham um amplo espaço assim que são lançadas, mas rapidamente caem no ostracismo. Portanto, é importante pensar bem em quais músicas e coletâneas você investirá seu dinheiro.
Além disso, algumas alterações no cenário econômico podem atrapalhar eventos culturais e artísticos (como a pandemia), o que faz com que a execução das músicas diminua.Também é necessário refletir a respeito do avanço de métodos de pirataria, que fazem com que as receitas sejam reduzidas. Prestar atenção às alterações na maneira como a distribuição dos royalties é taxada pelas empresas também é fundamental.
Dessa forma, antes de tomar sua decisão, leve em conta seu perfil de investidor, seus objetivos financeiros e compreenda o tripé dos investimentos. Assim, você evita alocações que possam ser prejudiciais.
Quem pode investir?
De maneira geral, qualquer pessoa pode investir na indústria musical. Contudo, no caso da Hurts, o investimento inicial mínimo precisa ser de 10 mil reais.
Nesse sentido, é importante que esse dinheiro corresponda a uma parcela da carteira de investimento que não coloque sua renda em risco, nem prejudique a sua reserva de emergência.
Considere também que o repasse dos royalties gerados pela execução ou reprodução das músicas terá prazo de 36 meses.
Como foi possível notar, o investimento em música é uma oportunidade promissora para quem deseja diversificar a carteira de investimentos e conseguir bons resultados no médio prazo. Esse tipo de alocação, que é inovador, tende a crescer cada vez mais diante dos avanços tecnológicos, com a perspectiva de superação da pandemia no médio prazo e o retorno de apresentações presenciais.
Para além de ser uma oportunidade de conseguir bons rendimentos, investir em royalties da indústria musical permite, também, incentivar a cultura nacional e contribuir com os artistas que você admira!