Em meio a escalada do conflito no Oriente Médio, com incertezas em relação aos desdobramentos e possível impacto no preço do petróleo, a inflação ao consumidor no Brasil surpreendeu positivamente, enquanto nos Estados Unidos o CPI veio acima da expectativa do mercado.
Nos Estados Unidos, o CPI de setembro registrou alta de 0,4%, desacelerando em relação ao mês anterior (0,6%), mas acima da expectativa do mercado (0,3%). Na comparação anual, a inflação ao consumidor avançou 3,7%, estável em comparação ao registrado em agosto. O núcleo de inflação subiu 0,3% em relação ao mês anterior e 4,1% em comparação a setembro de 2022, ambos em linha com o esperado.
Entre os grupos, alimentação avançou 0,2% no mês, estável em relação ao mês anterior, com alimentação no domicílio subindo 0,1% (ante 0,2% anterior), enquanto alimentação fora do domicílio acelerou para 0,4% (ante 0,3%). Preços de energia subiram 1,5%, desacelerando em relação a agosto, quando registrou alta de 5,6%. Resultado refletiu, principalmente, o arrefecimento em commodities energéticas (2,3% ante 10,5%), parcialmente compensado pela aceleração em serviços de energia (0,6% vs. 0,2% anterior).
Em relação as leituras subjacentes, bens registraram novo recuo de 0,4% (ante -0,1% anterior), a quarta queda consecutiva. Destaque para o recuo em carros usados (-2,5% ante -1,2% anterior), vestuário (-0,8% vs. 0,2% anterior) e produtos médicos (-0,3% vs. 0,6% anterior). Serviços subjacentes por sua vez aceleraram de 0,4% em agosto para 0,6% em setembro, puxado principalmente pela alta de 0,6% em habitação (ante 0,3% anterior). Serviços médicos (0,3% vs. 0,1%) também aceleraram, enquanto serviços de transportes subiram 0,7%, abaixo da alta de 2,0% em agosto.
A divulgação surpreendeu negativamente o mercado, com análise qualitativa apontando deterioração nos preços de serviços. Além disso, note-se aceleração do chamado super núcleo de inflação pelo terceiro mês consecutivo. O desempenho pior do que o esperado gerou novo movimento de aversão ao risco, com abertura da curva de juros, especialmente a ponta longa, reforçando o discurso de “higher for longer” nos Estados Unidos.
No Brasil, a inflação de setembro registrou surpresa positiva em relação as expectativas. O IPCA de setembro registrou alta de 0,26%, consideravelmente abaixo da nossa expectativa (0,36%) e da mediana do mercado (BBG: 0,33%). No resultado acumulado nos últimos doze meses, a inflação acelerou de 4,61% para 5,19%.
Na análise desagregada, destaque de alta para Transportes (1,40%) acelerando em relação a agosto (0,34%), influenciado pelo reajuste nos preços de combustíveis. Habitação (0,47%) desacelerou na comparação mensal (1,11%), no entanto registrou avanço acima expectativa. Despesas pessoais (0,45%), Vestuário (0,38%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,04%) e Educação (0,05%) também registraram variação positiva no mês.
Por outro lado, destaca-se a deflação de 0,71% em Alimentação e Bebidas. Apesar da desaceleração em relação a queda do mês anterior, variação veio abaixo da expectativa, reforçando a tendência positiva no curto prazo. Recuo foi puxado pela queda de 0,99% em Alimentação no Domicílio, parcialmente compensado pelo avanço em Alimentação fora do domicílio. Artigos de residência (-0,58%) e Comunicação (-0,11%) também registraram deflação no período.
Analisando as aberturas, preços administrados avançaram 1,11%, enquanto livres recuaram 0,04%. Serviços aceleraram para 0,50%. Industriais, por sua vez, registraram queda de 0,20%, forte desaceleração em relação a agosto. Nas leituras subjacentes, Serviços avançaram para 0,33%, enquanto industriais registraram deflação de 0,16%. A média dos cinco núcleos desacelerou novamente (0,21% ante 0,28%). A difusão também registrou nova queda, saindo de 53% para 43%.
Em resumo, a surpresa positiva na divulgação mantém a avaliação de uma tendência mais benéfica da inflação no país, justificando o atual ciclo de queda da Selic no país. No entanto, apesar da continuação da desinflação de serviços, a análise qualitativa da divulgação não parece suficiente para aceleração no ritmo de redução da taxa de juros. Em função da inflação de setembro abaixo do esperado, reduzimos nossa projeção para IPCA em 2023 de 5,00% para 4,90%.
A inflação doméstica segue apontando para a continuação do processo de desinflação, ainda que em um estágio mais lento e com resiliência no setor de serviços, o que deve permitir com o que o Banco Central do Brasil continue o processo de redução da taxa de juros no atual ritmo estabelecido nas próximas reuniões. No entanto, a deterioração na curva de juros norte-americana e a manutenção da taxa de juros em patamar elevado por período prolongado pelo Fed pode, e deve, impactar no ciclo de queda da taxa de juros no Brasil, principalmente em 2024. Prospectivamente, será importante monitorar os desdobramentos do conflito no Oriente Médio e seu impacto no preço do petróleo. Um forte aumento no preço da commodity pode frustrar os planos das autoridades monetárias ao redor do mundo.