Já pensou em investir em ações estrangeiras de gigantes como Apple, Google e Amazon? Pois saiba que essa tem sido uma estratégia cada vez mais adotada por investidores que querem ampliar as opções de diversificação da carteira de investimentos.
Até pouco tempo, a opção de seguir por esse caminho estava restrita a investidores qualificados, ou seja, com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras. No entanto, em setembro uma alteração nas regras por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitiu o acesso de pequenos investidores a esses papéis.
Mas, afinal, você sabe como escolher um BDR? Para responder a essa pergunta, preparamos este artigo que ajudará você nessa tarefa.
O que são BDRs?
Os BDRs, ou Brazilian Depositary Receipts, são certificados emitidos por uma instituição depositária no Brasil que, inicialmente, adquire, no exterior, ativos – que geralmente são ações – de determinada companhia e, em seguida, cria um programa de BDR devidamente registrado na CVM.
Esses certificados são títulos negociados no mercado de renda variável brasileiro, mas que representam e são lastreados por ativos emitidos em outros países, tanto por empresas estrangeiras, como Amazon, Google, Facebook, Microsoft, quanto por companhias brasileiras de capital aberto, como parte das novas regras vigentes desde setembro de 2020.
Dessa forma, quem adquire um BDR não está realizando a aquisição direta das ações dessas empresas e se tornando assim um acionista, mas, sim, investindo em títulos representativos delas.
Como funciona esse tipo de investimento?
Como mencionado, os BDRs são negociados no mercado de renda variável brasileiro – em mercado de Bolsa ou Balcão –, assim como as ações e os ETFs. No caso das negociações realizadas no mercado de Balcão, a administração é feita por instituições autorreguladoras, e são supervisionadas e autorizadas a funcionar pela CVM.
Para que os BDRs sejam emitidos, é necessário que existam, pelo menos, duas instituições envolvidas na operação. Essas organizações são o custodiante e a depositária.
A primeira deve estar situada no país de origem da companhia e será ela a responsável pela custódia dos valores mobiliários. A segunda, a depositária, deve estar situada em território nacional.
A depositária emite os Brazilian Depositary Receipts e garante que todos os certificados estejam devidamente lastreados com valores mobiliários reais e originais. Para isso, ela emite BDRs na mesma quantidade dos ativos depositados no custodiante.
O procedimento de emissão do BDR pode variar de acordo com a existência ou não de patrocínio, por parte da empresa emissora do ativo-objeto de negociação do certificado. O tipo desse certificado – Nível I, II ou III – dependerá das características de distribuição, negociação e divulgação de informações.
É importante deixar claro que, apesar de as cotações do BDR serem referenciadas na moeda do país de origem dos papéis que servem de lastro para o certificado, as negociações, liquidações pagamentos de eventuais rendimentos, ocorrem em moeda nacional. No entanto, ao investir em BDRs você estará exposto à variação cambial, ou seja, à variação da moeda estrangeira em relação ao real.
O que levar em consideração ao escolher um BDR?
Escolher um BDR depende de alguns fatores, sendo o principal o seu objetivo como investidor. Além disso, é preciso avaliar se a escolha será feita por conta própria, baseada em metodologias ou análises, ou se você contará com a orientação da corretora ou do banco de investimento onde você tem conta. De qualquer maneira, é preciso considerar alguns fatores apontados a seguir!
Tipos de BDRs
Existem dois tipos de BDR: os patrocinados e os não patrocinados. Além disso, eles também apresentam uma classificação com níveis diferentes.
Patrocinados
Os BDRs patrocinados são classificados como aqueles cuja própria empresa emissora das ações tem intenção de ofertar investimentos no mercado brasileiro. Como participante do processo, ela mesma contrata a instituição depositária.
A instituição depositária, que é responsável por emitir os BDRs que serão negociados no Brasil, pode não só realizar a emissão, mas também cancelar os BDRs patrocinados, dependendo exclusivamente da demanda de investidores no mercado primário no país.
Os BDRs patrocinados são divididos em três níveis: I, II e III. A principal diferença entre eles é quanto ao registro, a negociação e repasse de informações aos investidores.
No nível I, o BDR não necessita de um registro de companhia, disposto na Instrução CVM nº 480. Assim, é obrigação da instituição depositária divulgar fatos relevantes, deliberações aos acionistas, entre outras informações, divulgadas pela empresa emissora no país de origem.
Quanto à negociação, só pode ser realizada em mercado de balcão não organizado ou em segmentos específicos para BDRs do tipo, tanto em mercado de balcão organizado, quanto de Bolsa de Valores. Até setembro de 2020, apenas pessoas físicas ou jurídicas, consideradas por regulamentação como investidores qualificados, podiam negociar tais BDRs. No entanto, com as novas regras divulgadas pela CVM, investidores varejo passaram a poder negociá-los.
Basta apenas que alguns requisitos sejam atendidos pelo emissor dos valores mobiliários objeto de negociação dos BDRs: se os ativos negociados no exterior tiverem o ambiente de mercado estrangeiro classificado como “mercado reconhecido”, onde nos 12 meses anteriores tenham apresentado maior volume de negociação, seus certificados – os BDRs – poderão ser negociados por investidores varejo.
Tal flexibilidade ajudou, inclusive, que empresas que possuem atividade econômica majoritariamente no Brasil, mas capital aberto fora, também pudessem fazer a negociação de seus papéis, emitindo tais certificados.
Já os níveis II e III são bastante parecidos. Ambos são exclusividade dos BDRs Patrocinados e, nesse caso, para que possam ser negociados, as empresas emissoras dos valores mobiliários necessitam ser registradas na CVM e sob a categoria “A”, de acordo com as regras da Instrução CVM nº 480.
Diferente dos BDRs Nível I, os de Nível II e III podem ser negociados no mercado de balcão organizado e na Bolsa de Valores, sem a necessidade de que seja criado um segmento específico para eles.
A diferença entre o II e III é o fato de que esse último é registrado na hipótese de oferta pública simultânea no Brasil e no exterior. Cabe lembrar-se de que os BDRs de níveis II e III podem ser negociados por qualquer tipo de investidor, não existindo a restrição para tal.
Não patrocinados
Os BDRs não patrocinados são aqueles papéis cujo interesse em negociá-los no mercado financeiro não foi uma iniciativa da própria empresa emissora dos valores mobiliários, e sim, de uma ou mais instituições depositárias.
Logo, a instituição depositária é a responsável por adquirir os papéis, fazer a emissão de certificados lastreados e por divulgar ao mercado, informações da emissora dos valores mobiliários, tais como balanços e fatos relevantes. Esse tipo de BDR representa grande parte dos certificados listados na B3 e são sempre considerados como sendo de nível I.
PERFORMANCE NO MERCADO
Uma coisa importante sobre a performance dos BDRs no mercado é que eles são um espelho do que acontece com seus respectivos valores mobiliários no exterior. Outro fato importante é que, caso os ativos paguem dividendos, o investidor aqui no Brasil receberá o rendimento já convertido para o real.
Depois que os investidores no exterior são pagos, cabe à instituição depositária efetuar o crédito em conta para os brasileiros. Os investidores daqui são beneficiados caso haja alta no dólar, mas o contrário também é possível, caso o dólar venha a cair. Além disso, a instituição depositária recebe um percentual desses dividendos.
É importante ressaltar também, que os dividendos são tributados pelo Imposto de Renda, e a taxa varia conforme a tabela de alíquotas progressiva, que vai de 0% a 27,5%.
PERFIL DO INVESTIDOR
Outro ponto a ser considerado ao escolher um BDR é o seu perfil de investidor. O papel tem um funcionamento semelhante ao das ações negociadas na B3, sofrendo com oscilações do mercado. O investidor deve estar disposto a correr riscos e estar atento à empresa, bem como à expectativa da variação cambial. Ou seja, se o seu perfil for mais conservador, esse tipo de investimento pode não ser a melhor opção para a sua carteira.
LOTES BDRs
Na B3 atualmente são listados mais de 670 BDRs. Dada a diversidade de empresas, os valores de cada certificado são variados.
No entanto, graças à iniciativa da B3 de reduzir a quantidade mínima de lotes-padrões que um investidor pode adquirir, há mais flexibilidade e oportunidade de negócio para investidores com poucos recursos, visto que a quantidade mínima de negociação passa de 10 para 1, no caso do nível I, e de 100 unidades para 1, nos níveis II e III.
Quais são os principais BDRs negociados no mercado brasileiro?
Antes de escolher o BDR que melhor atende às suas necessidades e objetivos, é importante estar atento aos papéis que são mais populares. Confira a lista a seguir, dados da B3 divulgados no Valor Investe, que demonstram a variação dos cinco BDRs mais negociados, até o fechamento do pregão de 21 de outubro de 2020.
• Apple (AAPL34): variação no ano 125,80%;
• Amazon (AMZO34): variação no ano 140,92%;
• Mercado Livre (MELI34): variação no ano 207,63%;
• Microsoft (MSFT34): variação no ano 90,81%;
• Tesla (TSLA34): variação no ano 619,74%.
Mesmo em meio à pandemia global do coronavírus, essas empresas tiveram uma performance excelente. Um dos fatores que levaram a isso foi o crescimento de alguns empreendimentos durante o período de isolamento, como são os casos da Amazon e do Mercado Livre, que viram as vendas online saltarem.
Outro exemplo é a Apple que, apesar dos desafios, mostrou a sua fortaleza enquanto uma companhia que não vende apenas smartphones, mas também responde por uma fatia de mais de 40% do mercado de relógios inteligentes e fones de ouvido sem fio.
Mas não foram apenas essas empresas que se destacaram. Entre as BDRs mais negociadas, estão na lista também:
• Alphabet (Google);
• Facebook;
• Walt Disney;
• Mc Donalds;
• Netflix;
• Mastercard.
No grupo das mais rentáveis em 12 meses, entre agosto de 2019 e 2020, segundo pesquisa da Economatica, encontram-se companhias como:
• Tesla
• Nvidia;
• Qualcomm;
• Adobe;
• PayPal.
Quais são os benefícios de escolher um BDR para investir?
O primeiro benefício de escolher um BDR para investir é o acesso que ele dá ao mercado internacional de ações. E o melhor é que, somente com uma conta em uma corretora de valores ou banco de investimentos, você mesmo pode negociar esses ativos.
Outra vantagem é que, apesar de serem referenciados na moeda de origem dos valores mobiliários que servem de lastro para o título, todas as operações são realizadas em nossa moeda local, o Real. Vale ressaltar que o BDR não é uma ação propriamente dita, mas um recibo lastreado em ação ou outro valor mobiliário.
Mesmo assim, é possível ter direito ao recebimento de dividendos. Caso deseje transformar o BDR em ação no exterior, isso também é viável. Nesse caso, o investidor deve solicitar, ao escriturador, o processo de conversão.
O fato de não ser necessário ter uma conta no exterior para se realizar tal investimento, é outro atrativo, sendo o processo muito parecido com o que é realizado para a compra de ações.
E as desvantagens das BDRs?
Ao investir em BDRs, é importante estar atento a alguns pontos que podem ser considerados desvantajosos, dependendo de seus objetivos como investidor. O primeiro diz respeito à quantidade de opções disponíveis. Apesar de haver mais de 600 BDRs listados na B3, se comparado ao mercado americano, há poucas opções, visto que lá existem mais de 5 mil ativos disponíveis.
Além disso, mesmo se contarmos com as recentes mudanças nas regras realizadas pela B3 e CVM, os BDRs não são tão populares no mercado financeiro brasileiro, o que torna a liquidez deles limitada. Claro que, para objetivos de longo prazo, isso não é um problema. Porém, para quem precisa do dinheiro em curto prazo, isso pode ser um entrave.
Outra desvantagem é que os BDRs não podem ser fracionados como as ações. Apesar da facilitação resultante das recentes mudanças nas regras que envolvem os lotes-padrões, não há a opção de mercado fracionado.
Assim, o investimento mínimo em determinados BDRs pode não ser tão acessível. De maneira geral, vale a pena escolher um BDR para investir, principalmente se o seu perfil de investidor é arrojado.
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