No cenário interno, inflação registrou novo sinal de alívio nos preços de serviços, confirmando processo de desinflação em curso no país. Já no cenário externo, PIB dos Estados Unidos registra o avanço mais forte desde 2021, surpreendendo as expectativas e pressionando o Fed na condução da política monetária.
No Brasil, a divulgação do IPCA-15 de outubro deus sinais de continuação do processo de desinflação no país. O IPCA-15 registrou alta de 0,21% em outubro, em linha com nossa expectativa (0,22%) e mediana do mercado (0,20%). No acumulado em 12 meses, o índice avançou 5,05%, acelerando em relação ao observado no mês anterior (5,00%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,96%.
Analisando os grupos, destaque de alta para Transportes (0,78%), desacelerando em relação ao observado no mês anterior (2,02%), em função da dissipação do efeito do reajuste de combustíveis em meados de agosto, mas ainda representando o principal impacto altista na divulgação, puxado por passagem aérea (23,75%). Habitação (0,26%) arrefeceu na comparação mensal, com leve recuo em energia elétrica.
Por outro lado, note-se deflação em Alimentação e Bebidas (-0,31%), acima das expectativas e em menor magnitude em relação ao mês anterior (-0,77%). O recuo foi puxado pela queda em Alimentação no Domicílio (-0,52%), parcialmente compensado pelo avanço em Alimentação Fora do Domicílio (0,21%).
Serviços avançaram 0,63%, acima da alta de 0,53% em setembro. Por outro lado, sua leitura subjacente, ou seja, índice que exclui itens mais voláteis e busca capturar a tendência de preços, registrou desaceleração relevante e abaixo do esperado (0,14% vs. 0,34% anterior). Industriais recuaram 0,01% (vs. -0,16% anterior). Industriais subjacentes, por sua vez, subiram de -0,10% para 0,02% (vs. 0,29% est.). A média dos cinco núcleos desacelerou mais uma vez (0,22% vs. 0,26% anterior). A difusão avançou de 42% para 47%, mas ainda se mantendo em patamar comportado.
Em resumo, a divulgação majoritariamente em linha com o esperado aliado a desaceleração na atividade econômica corroborada pelo desempenho do setor de serviços em agosto, mantém as perspectivas de redução da taxa Selic, com continuação do processo de desinflação. Pelo lado positivo, destaca-se a leitura abaixo do esperado em serviços subjacentes, aliado a manutenção da tendência de queda em alimentação e bebidas e novo arrefecimento na média dos cinco núcleos.
Nos Estados Unidos, a divulgação do PIB do terceiro trimestre surpreendeu as expectativas, com o avanço mais forte desde 2021. O PIB dos Estados Unidos registrou alta de 4,9% (taxa trimestral anualizada) no terceiro trimestre de 2023 na primeira leitura, acelerando em relação ao avanço de 2,1% observados no segundo trimestre do ano e acima da expectativa do mercado (4,5%).
Consumo das famílias aceleraram de 0,8% para 4,0% no terceiro trimestre, com avanço no consumo de bens (4,8% vs. 0,5% anterior) e no consumo de serviços (3,6% vs. 1,0% anterior).
Os investimentos registraram crescimento de 8,4% no período, acelerando em relação a alta de 5,2% no 2T23. Os investimentos fixos avançaram 0,8% (vs. 5,2% anterior), com os investimentos não residenciais recuando 0,1% (vs. 7,4% anterior) enquanto os investimentos residenciais avançaram 3,9% (ante -2,2% no 2T23).
As exportações líquidas subiram 6,2%, após forte queda de 9,3% no 2T23. Avanço foi influenciado pela recuperação nas exportações de bens (7,5% vs. -16,0% anterior), enquanto serviços desaceleraram de 6,2% para 3,7%. As importações registraram alta de 5,7%, também revertendo a queda de 7,6% no trimestre anterior. Movimento refletiu tanto o avanço nas importações de bens (5,9% vs. -6,5% no 2T23) quanto nas importações de serviços (4,8% vs. -12,2%).
Os gastos do governo cresceram 4,6% no 3T23, acelerando em relação a alta de 3,3% no trimestre imediatamente anterior. O avanço reflete o crescimento tanto do consumo do governo (3,9% vs. 0,9% anterior) quanto dos investimentos públicos (7,1% vs. 13,5%). Gastos dos governos federal (6,2%) e estaduais (3,7%) também avançaram no terceiro trimestre.
Novamente, a divulgação do PIB reforça a robustez da economia norte-americana, com o crescimento do terceiro trimestre sendo o mais alto desde 2021. O forte avanço no 3T23 foi impulsionado, principalmente, pelo crescimento no consumo, apoiado por um mercado de trabalho ainda robusto. Prospectivamente, espera-se que o crescimento da economia dos Estados Unidos arrefeça nas próximas divulgações. O crescimento acima do esperado do PIB pressiona o Fed na condução da política monetária, mas não alterou as projeções de manutenção da taxa de juros inalterada na próxima reunião.
Por um lado, o arrefecimento na atividade econômica doméstica e manutenção do processo de desinflação com melhora nos preços de serviços mantém um cenário benigno para a continuação da redução da taxa Selic. Por outro lado, deterioração na curva de juros nos Estados Unidos mantém perspectivas de taxa de juros elevada por período prolongado, fato que pode impactar o processo de queda da Selic no Brasil. Por hora, mantemos expectativa de Selic em 11,75% no final de 2023.