Os mercados internacionais seguiram pressionados nos últimos meses, com manutenção do sentimento de aversão ao risco em função do aumento das tensões geopolíticas, desaceleração da atividade econômica na China e na Zona do Euro e, principalmente, continuação do movimento de alta nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, apesar de alguma acomodação nas últimas semanas.
Nos Estados Unidos, o PIB do terceiro trimestre do ano registrou alta de 4,9 (taxa trimestral anualizada) na primeira leitura, acelerando em relação ao avanço de 2,1% observados no segundo trimestre do ano e acima da expectativa do mercado (4,5%). O forte avanço no 3T23 foi impulsionado, principalmente, pelo crescimento no consumo, apoiado por um mercado de trabalho ainda robusto. Prospectivamente, espera-se que o crescimento da economia dos Estados Unidos arrefeça nas próximas divulgações. Adicionalmente, o FOMC manteve a taxa de juros inalterada no intervalo entre 5,25% – 5,50% pela segunda reunião consecutiva, conforme amplamente esperado pelo mercado. Em resumo, o comunicado não trouxe grandes alterações em relação à última reunião. Jerome Powell reforçou na coletiva de imprensa que o comitê não está confiante se o nível de política monetária está suficientemente restritivo para controle da inflação. Apesar disso, comentários sobre melhor equilíbrio no mercado de trabalho além de não garantir nova alta na taxa de juros ainda em 2023 foram interpretados como levemente dovish. Adicionalmente, indicadores recentes apontam para desaceleração da atividade econômica nos Estados Unidos.
Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu manteve a taxa de juros inalterada, sem registrar grandes alterações no balanço de riscos, mas reconhecendo que as condições financeiras mais apertadas vem contribuindo para uma melhor dinâmica inflacionária e de atividade econômica na busca pelo arrefecimento da inflação em direção a meta. As últimas divulgações de PMI’s reforçam a desaceleração esperada na atividade, tanto no setor industrial quanto em serviços. A conjuntura econômica em solo Europeu, caracterizada nesse momento pelo arrefecimento na atividade econômica e desaceleração da inflação, alimenta a perspectiva de que o ciclo de alta na taxa de juros tenha encerrado. No entanto, discursos recentes de membros da autoridade monetária na Zona do Euro, além da inflação ainda acima da meta estabelecida, reforçam a expectativa de que a taxa de juros terá de permanecer em terreno restritivo por período prolongado.
Na China, os dados do PIB do terceiro trimestre registraram avanço acima da expectativa, sinalizando que o crescimento da atividade econômica deve atingir patamar próximo da meta de 5,0% do governo em 2023. Adicionalmente, a última divulgação da balança comercial chinesa registrou uma queda acima do esperado nas exportações, o que pode indicar uma desaceleração da atividade econômica global mais forte. O Governo anunciou novos estímulos de cerca de US$ 137 bi focados, principalmente, em projetos ligados a combate das mudanças climáticas. A expectativa permanece em torno de uma desaceleração mais estrutural da economia chinesa, com uma mudança na dinâmica de crescimento com o protagonismo movendo do setor imobiliário para o consumo pessoal.
O cenário externo permanece desafiador. A perspectiva de manutenção da taxa de juros mais alta por mais tempo tanto nos EUA quanto na Zona do Euro deve manter a atividade econômica pressionada a frente, com possibilidade de recessão nos países desenvolvidos. A fraca atividade na China também contribui para uma desaceleração na economia global. No entanto, a combinação da queda na atividade econômica e desaceleração na inflação permite que as autoridades monetárias encerrem o ciclo de alta nos juros, com o mercado começando a precificar o início da redução nas taxas a partir do segundo semestre de 2024, o que pode trazer alívio para os mercados de capitais.