Em sua 258ª reunião, o Copom reduziu a taxa de juros em 50 bps para 12,25%, conforme amplamente esperado pelo mercado. Importante ressaltar que a decisão foi unânime. No comunicado, o Banco Central reforçou novamente a deterioração no cenário externo, especialmente relacionado a abertura na curva de juros de longo prazo nos Estados Unidos, resiliência de núcleos de inflação em patamar elevado nos países desenvolvidos ressaltar novas tensões geopolíticas.
Em relação ao ambiente externo, o comitê afirmou que o cenário se mostra adverso (não “mais incerto”), creditando tal interpretação ao movimento de alta na curva de juros nos Estados Unidos, principalmente nos prazos mais longos. Adicionalmente, demonstra preocupação com a resiliência dos núcleos de inflação nos países desenvolvidos, afirmando que permanecem em patamar elevado, além de mencionar a guerra no Oriente Médio. O comunicado destaca, novamente, a determinação dos países desenvolvidos na busca pela convergência da inflação para suas respectivas metas. O texto reforça que tais situações exigem mais atenção dos países emergentes.
No cenário doméstico, o comitê ressaltou que os últimos indicadores reforçam a trajetória de desaceleração da atividade econômica em linha com o cenário antecipado pela autoridade monetária. O comunicado reafirmou que a inflação ao consumidor continua em trajetória de desinflação, mas que tanto o índice cheio quanto os subjacentes permanecem acima da meta estabelecida.
O Banco Central realizou alterações relevantes nas suas projeções de inflação, com queda na expectativa para 2023 e alta nas estimativas para 2024 e 2025. A autoridade monetária estima inflação em 4,7% (ante 5,0%) em 2023, 3,6% (ante 3,5%) em 2024 e 3,2% (ante 3,1%) em 2025. No que tange os preços administrados, o comitê reduziu a expectativa para 2023 (9,3% ante 10,5% anterior) e aumentou a projeção para 2024 (5,0% vs. 4,5% anterior). Para 2025, o Copom manteve a projeção de alta de 3,6% nos preços administrados.
O comitê manteve seu balanço de riscos inalterados, ressaltando do lado altista uma persistência inflacionária ao redor do mundo e resiliência na inflação de serviços maior do que o antecipado. Dentre os riscos de baixa, o comunicado reforçou, mais uma vez, novamente uma potencial desaceleração da atividade econômica global mais forte do que o projetado, devido aos impactos do aperto monetário realizado por diversos países de maneira sincronizada. Apesar de não alterar o balanço de riscos, o comunicado incluiu um novo trecho em que afirma que, na avaliação do comitê, a conjuntura, principalmente no que tange o cenário externo, “é mais incerta do que a usual, e exige cautela na condução da política monetária.”. Tal trecho pode ser interpretado como levemente mais hawkish no que tange a taxa terminal do ciclo de queda da Selic.
O comunicado manteve trecho em que destaca a importância da execução das metas fiscais estabelecidas no âmbito do novo arcabouço fiscal para a ancoragem das expectativas de inflação, e que a persistência para atingir tais objetivos é relevante para a condução da política monetária.
Em função do cenário exposto, além do balanço de riscos, o comitê decidiu reduzir a taxa de juros em 50 bps para 12,25%, mais uma vez, citando que acredita que tal decisão é compatível com a convergência da inflação para ao redor da meta no horizonte relevante incluindo tanto 2024 quanto 2025 (retirou menção de “em menor grau” para 2025).
O comitê manteve trecho em que afirma que o atual cenário é marcado por um processo desinflacionário mais lento aliado a expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, fatos que demandam, nas palavras do Copom, “serenidade e moderação na condução da política monetária”. Assim como no último comunicado, o comitê reforçou a sua perseverança com uma política monetária suficientemente contracionista visando, não só a consolidação do processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas para próximo de suas metas.
Em relação aos próximos passos, o Copom manteve reafirma que os membros, de maneira unânime, anteveem cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões, caso o cenário projetado se confirme. Além disso, enfatiza (não mais “ressalta”) que o movimento total do ciclo de redução da taxa de juros vai depender da evolução dos indicadores econômicos, em especial da inflação e expectativas de inflação, principalmente as de longo prazo, hiato do produto e balanço de riscos.
Novamente, a decisão e o comunicado da reunião do Copom vieram majoritariamente em linha com a expectativa do mercado, mantendo a expectativa de manutenção do ritmo de cortes da Selic em 50 bps para as próximas reuniões e mais uma vez afastando a possibilidade de aceleração de tal ritmo no curto prazo. Em um tom levemente mais hawkish, destaca-se a adição de trecho que indica aumento das preocupações com o cenário externo além da alta na projeção de inflação para 2025 vis a vis a preocupação da autoridade monetária com a ancoragem das expectativas em prazos mais longos, o que eleva a incerteza em relação a taxa terminal do atual ciclo de queda dos juros. Mantemos expectativa de Selic em 11,75% no final de 2023 e, por hora, em 9,75% para 2024.